A Guiné-Bissau "transitou de Estado frágil para Estado falhado, para hoje se assumir, na prática, como um não-Estado, ou seja um Estado meramente virtual, uma vez que os reais atributos de Estado, tal como os define a ciência política, não se lhe aplicam".
Esta é mais uma citação que faço do roteiro académico "Da Guiné-Portugal à Guiné-Bissau", de Francisco Henriques da Silva e Mário Beja Santos; livro que serve para completar e desenvolver muito do que até hoje sabíamos da vida guineense, desde a chegada dos europeus à região até aos anos mais recentes.
Depois da execuções mandadas efectuar por Amílcar Cabral durante os anos da luta armada e das ordenadas por seu irmão Luís após a proclamação da independência, surgiram as mandatadas por Nino Vieira, num proto-Estado, Estado falhado, pseudo-Estado que tem vindo a ser assinalado, tudo ele, por um vasto rasto de sangue.
O terror e o despotismo sempre marcaram a luta pelo poder na Guiné-Bissau, passando pelo assassínio de Amílcar Cabral, de Nino Vieira, de Paulo Correia, de Viriato Pã, de Ansumane Mané, de Veríssimo Correia Seabra, de Tagme Na Wae, de Hélder Proença, de Baciro Dabó e de tantos, tantos outros.
"A partir de 14 de Novembro de 1980, o peso dos militares na vida política passou a ser dominante". Cito uma vez mais o roteiro que o mês passado foi editado no Porto; e que vem repleto de fichas de leitura, para quem desejar acompanhar ao pormenor toda a história da Guiné-Bissau, desde os tempos em que ainda não o era até ao período em que está a correr o risco de o deixar de ser.
Tanto assim é, o peso dos militares, que ouvimos na praça pública o actual Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, António Indjai, ameaçar de morte o então primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior (Cadogo Júnior), da primeira vez que o prendeu, ainda antes do golpe de 2012, pelo qual conseguiu impedir que ele fosse eleito Presidente da República.
Esperamos agora, esperamos sinceramente, que o Presidente que vier a ser eleito no mês de Maio, à segunda volta, consiga afastar de vez António Indjai da chefia das Forças Armadas, pois que ele é uma das muitas calamidades que ao longo dos últimos 40 anos se abateram sobre os guineenses.
No entanto, há que deixar bem claro que não é o simples afastamento de um ou dois oficiais generais que resolve o problema da constante interferência dos homens armados nos assuntos da Guiné-Bissau.
Enquanto não houver uma profunda reforma dos sectores da Defesa e da Segurança, o Estado de Direito não existe. Enquanto não saírem de campo muitos generais, coronéis e agentes secretos aos mesmos afectos, o Estado simplesmente não existe. É uma mera ficção.
Vejamos se o próximo Presidente a tomar posse e se o Governo a ser constituído sob a égide do PAIGC conseguirá ou não corrigir alguns dos muitos males que por aquelas bandas têm sido detectados desde os tempos da luta armada. Jorge Heitor, 22 de Abril de 2014
terça-feira, 22 de abril de 2014
domingo, 20 de abril de 2014
As dificuldades de se construir a Guiné-Bissau
O roteiro académico "Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau", publicado em Março, no Porto, por Francisco Henriques da Silva e Mário Beja Santos, divide a história contemporânea do território em quatro períodos:
- A ilusória construção do país (de 1974 a 1980)
- A cisão com Cabo Verde e a abertura política (1980-1999)
- A guerra civil e a preponderância dos militares na vida política (1998-1999)
- O Estado falhado e as suas crises endémicas (de 1999 ao golpe de 12 de Abril de 2012).
Do período de transição que se seguiu ao golpe de estado de 2012 ainda não rezam os compêndios, nem este roteiro sobre tudo o que ao longo dos séculos foi acontecendo nas terras de mandingas, fulas, balantas, manjacos, beafadas, felupes e outros povos que com eles têm convivido.
A independência da Guiné-Bissau foi proclamada unilateralmente, em Madina do Boé, no dia 24 de Setembro de 1973, mas as últimas tropas portuguesas só de lá saíram no mês de Outubro de 1974.
A primeira pessoa a exercer as funções de comissário principal (primeiro-ministro), Francisco Mendes, Chico Té, morreu num acidente de automóvel em 7 de Julho de 1978; e o Presidente Luís Cabral foi deposto por Nino Vieira (sucessor de Chico Té) em 14 de Novembro de 1980.
Assim decorreram os seis primeiros anos após a descolonização, podendo-se deles concluir que de nada servira ao PAIGC ter feito uma boa guerrilha e deixado em maus lençóis as Forças Armadas Portuguesas.
Construir um país não é, de forma alguma, conquistar o poder; mas sim saber geri-lo, da melhor maneira possível. E isso, até hoje, ainda quase nunca foi feito na Guiné-Bissau.
Construir um país não é, apenas, ter um líder carismático, sobretudo se esse líder morre ou é assassinado ainda antes da independência ser alcançada.
Construir um país só se consegue a partir de uma base sólida, de preferência com uma população devidamente alfabetizada (a mais de 50 por cento) e com um número muito razoável de quadros. Sem qualquer interferência de conflitos étnicos.
Vimos isso, há 34-35-36 anos, na Guiné-Bissau. E estamos a vê-lo agora, por exemplo, no Sudão do Sul. Oxalá todos o compreendam; para que estes erros não se repitam. Jorge Heitor 20 de Abril de 2014
- A ilusória construção do país (de 1974 a 1980)
- A cisão com Cabo Verde e a abertura política (1980-1999)
- A guerra civil e a preponderância dos militares na vida política (1998-1999)
- O Estado falhado e as suas crises endémicas (de 1999 ao golpe de 12 de Abril de 2012).
Do período de transição que se seguiu ao golpe de estado de 2012 ainda não rezam os compêndios, nem este roteiro sobre tudo o que ao longo dos séculos foi acontecendo nas terras de mandingas, fulas, balantas, manjacos, beafadas, felupes e outros povos que com eles têm convivido.
A independência da Guiné-Bissau foi proclamada unilateralmente, em Madina do Boé, no dia 24 de Setembro de 1973, mas as últimas tropas portuguesas só de lá saíram no mês de Outubro de 1974.
A primeira pessoa a exercer as funções de comissário principal (primeiro-ministro), Francisco Mendes, Chico Té, morreu num acidente de automóvel em 7 de Julho de 1978; e o Presidente Luís Cabral foi deposto por Nino Vieira (sucessor de Chico Té) em 14 de Novembro de 1980.
Assim decorreram os seis primeiros anos após a descolonização, podendo-se deles concluir que de nada servira ao PAIGC ter feito uma boa guerrilha e deixado em maus lençóis as Forças Armadas Portuguesas.
Construir um país não é, de forma alguma, conquistar o poder; mas sim saber geri-lo, da melhor maneira possível. E isso, até hoje, ainda quase nunca foi feito na Guiné-Bissau.
Construir um país não é, apenas, ter um líder carismático, sobretudo se esse líder morre ou é assassinado ainda antes da independência ser alcançada.
Construir um país só se consegue a partir de uma base sólida, de preferência com uma população devidamente alfabetizada (a mais de 50 por cento) e com um número muito razoável de quadros. Sem qualquer interferência de conflitos étnicos.
Vimos isso, há 34-35-36 anos, na Guiné-Bissau. E estamos a vê-lo agora, por exemplo, no Sudão do Sul. Oxalá todos o compreendam; para que estes erros não se repitam. Jorge Heitor 20 de Abril de 2014
sexta-feira, 18 de abril de 2014
Bissau: PRS reconhece vantagem do PAIGC
Bissau (Angop, 18 de Abril de 2014) - O Partido da Renovação Social (PRS), o segundo mais votado nas eleições legislativas da Guiné-Bissau, aceitou os resultados do escrutínio e felicitou o PAIGC como vencedor.
Numa conferência de imprensa em Bissau, na presença do Representante das Nações Unidas, José Ramos-Horta, o diretor da campanha do PRS, Baltazar Cardoso, anunciou a aceitação dos resultados “dentro do espírito democrático”.
Baltazar Cardoso disse que o PRS felicita o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), reconhecendo que o povo lhe conferiu a maioria (no parlamento) para que nos próximos quatro anos esteja a frente dos destinos da Guiné-Bissau.
O PRS conta com 41 deputados no palácio Colinas de Boé, e o PAIGC com 55, quanto faltam ainda por apurar dois mandatos dos círculos da emigração – África e Europa.
Numa conferência de imprensa em Bissau, na presença do Representante das Nações Unidas, José Ramos-Horta, o diretor da campanha do PRS, Baltazar Cardoso, anunciou a aceitação dos resultados “dentro do espírito democrático”.
Baltazar Cardoso disse que o PRS felicita o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), reconhecendo que o povo lhe conferiu a maioria (no parlamento) para que nos próximos quatro anos esteja a frente dos destinos da Guiné-Bissau.
O PRS conta com 41 deputados no palácio Colinas de Boé, e o PAIGC com 55, quanto faltam ainda por apurar dois mandatos dos círculos da emigração – África e Europa.
sexta-feira, 4 de abril de 2014
MH370: Em causa a integridade da Malásia
Malaysia’s sophisticated radar system would have immediately detected Flight MH370 as it crossed the country’s mainland after changing course and should have alerted the air force, Anwar Ibrahim, the opposition leader, has claimed.
Malaysia’s government is deliberately concealing information that would help to explain what happened to missing Flight MH370, the country’s opposition leader has claimed.
In a wide-ranging interview that cast doubt on the official investigation into the disappearance of the plane, Anwar Ibrahim said the country’s “sophisticated” radar system would have identified it after it changed course and crossed back over Malaysia.
Mr Anwar, who personally knew the pilot of the Malaysia Airlines Boeing 777 that went missing in the early hours of March 8 during a flight from Kuala Lumpur to Beijing, called for an international committee to take over the Malaysian-led operation because “the integrity of the whole nation is at stake”.
He indicated that it was even possible that there was complicity by authorities on the ground in what happened to the plane and the 239 people on board.In an interview with The Telegraph, he said that he had personally authorised the installation of “one of the most sophisticated radar” systems in the world, based near the South China Sea and covering Malaysia’s mainland and east and west coastlines, when he was the country’s finance minister in 1994.
It was “not only unacceptable but not possible, not feasible” that the plane had not been sighted by the Marconi radar system immediately after it changed course. The radar, he said, would have instantly detected the Boeing 777 as it travelled east to west across “at least four” Malaysian provinces.
The Telegraph
Kumba Ialá: a morte de um agitador
Na madrugada de hoje, depois de longos anos de intriga e de muito consumo de bebidas alcoólicas, faleceu na Guiné-Bissau o antigo Presidente Kumba Ialá, um dos maiores agitadores que o país até hoje conheceu e um dos principais causadores dos seus males. Apesar de ser o mais antigo dos Países Africanos de Língua Ofical Portuguesa (PALOP), com a sua independência unilateralmente proclamada pelo PAIGC em 24 de Setembro de 1973 e reconhecida por Portugal em 10 de Setembro de 1974, nem por isso a República da Guiné-Bissau é de forma alguma o mais consistente. Antes pelo contrário; a avaliar pelo número de presidentes, de governos e de golpes e intentonas que tem registado. Quando se tornou independente, nas colinas de Madina do Boé, no sueste do país, junto à fronteira com a República da Guiné (Conacri), quando ainda o PAIGC se encontrava em luta contra a administração colonial portuguesa, o seu primeiro Presidente foi Luís de Almeida Cabral, que João Bernardo Vieira (Nino) se encarregaria de derrubar em 14 de Novembro de 1980, remetendo-o para a cadeia e para o exílio, sucessivamente em Cuba e em Portugal, onde ficou até ao fim dos seus dias. De 7 a 14 de Maio de 1999 o território guineense foi dirigido por uma Junta Militar chefiada pelo brigadeiro Ansumane Mané, enquanto Nino Vieira, por ele derrubado, partia para o exílio no Norte de Portugal, de onde só regressaria seis anos depois. De 14 de Maio de 1999 a 17 de Fevereiro de 2000 esteve como Presidente interino Malam Bacai Sanhá e dessa última data a 14 de Setembro de 2003 o folclórico “homem do barrete encarnado” hoje falecido, o fundador do Partido da Renovação Social (PRS, Kumba Ialá, entretanto derrubado por um golpe de Veríssimo Correia Seabra, que em Outubro de 2004 viria a ser morto numa das várias escaramuças militares que tem havido na Guiné-Bissau. De 28 de Setembro de 2003 a 1 de Outubro de 2005 foi Presidente interino Henrique Rosa, que cedeu o poder a Nino Vieira, entretanto regressado à chefia do Estado por força do voto, mas que acabaria por ser assassinado, tal como o então Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, general Tagma Na Wae. Quanto a Amílcar Cabral, irmão mais velho de Luís Cabral e figura maior da luta pela independência, fora assassinado logo em 20 de Janeiro de 1973, na República da Guiné (Conacri), por alguns dos companheiros de guerrilha, sem ter tido sequer tempo de ver realizado o seu sonho. E, tal como ele, o primeiro-ministro que houve no país, Francisco Mendes, “Chico Té”, também foi morto, em 7 de Julho de 1978, aparentemente devido a divergências no seio do próprio Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que sempre se tem caracterizado por grandes tensões internas. Ou seja, uma longa história de violência e de agitação, que ninguém garante que possa terminar agora com o funeral de Kumba Ialá e com a realização, a partir de 13 de Abril, de eleições presidenciais e legislativas sobre as quais ele se pronunciara muito claramente. Não se sentindo já com forças de protagonizar novas aventuras, nos últimos meses de vida colocou todo o seu peso carismático no apoio ao candidato presidencial independente Nuno Nabiam, como forma de travar o caminho ao representante do PAIGC nesta corrida à chefia do Estado: José Mário Vaz, que foi ministro das Finanças no último Governo de Carlos Gomes Júnior (Cadogo Júnior). Nesta hora em que Kumba Ialá se encontra em câmara ardente no Hospital Militar de Bissau, resta-nos formular o desejo de que nos tempos mais próximos não surjam no seu país novas figuras tão perniciosas quanto ele o foi, pelo menos nestes últimos 15 anos. E que um dia os guineenses venham enfim a conseguir tudo aquilo que Amílcar Cabral para eles sonhou. Jorge Heitor
quinta-feira, 3 de abril de 2014
Peregrinação do Santo Padre às raizes do Cristianismo
De 24 a 26 de Maio, o Papa Francisco visita algumas das terras por onde andaram Abraão e Jesus, durante uma peregrinação à Jordânia, à Palestina e a Israel, para se encontrar tanto com os dirigentes como com os cidadãos menos afortunados.
Jorge Heitor
No quinquagésimo aniversário do histórico encontro entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras, de Constantinopla, o chefe da Igreja Católica dirige-se a Amã, a Belém e a Jerusalém, sob o signo da maior aproximação possível com os ortodoxos.
Francisco, um dos papas mais populares deste último século, reúne-se com o Patriarca Ecuménico Bartolomeu, considerado o primeiro dos prelados ortodoxos, e com o qual deverá assinar uma declaração conjunta, no dia 25 de Maio, em Jerusalém.
"Somos chamados a ser um só; e o Papa vem recordar-nos este apelo, renovando o espírito da unidade e do amor fraternal", disse o Patriarca latino de Jerusalém, Fouad Twal, durante uma conferência de imprensa dada no dia 27 de Março.
O logotipo da peregrinação representa o abraço entre São Pedro e Santo André, padroeiros das Igrejas Católica e Ortodoxa.
O Patriarca Twal teve o cuidado de explicar que o Papa Francisco, escolhido há pouco mais de um ano, solicitou modestas cerimónias de recepção em cada um dos locais visitados, pois que de modo algum deseja que as atenções se concentrem nele mas sim naquilo que representa e na missão que o leva até às populações.
Com os reis da Jordânia
Dia 24, em Amã, aquele que foi o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio reúne-se com os reis da Jordânia, Abdullah II e Rania, que já no Verão passado o visitaram no Vaticano e que de igual modo haviam recebido o seu antecessor, Bento XVI. No dia a seguir, em Belém, na Cisjordânia, o Papa reúne-se com o Presidente da Palestina, Mahmou Abbas. E em 26, na cidade fde Jerusalém, sucessivamente com o idoso Presidente israelita Shimon Peres e com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Na Jordânia, a leste do rio Jordão, Francisco reúne-se com refugiados e com jovens deficientes, de modo a vincar bem que os que mais sofrem se encontram sempre no seu coração e nas preocupações da Santa Madre Igreja. Em Belém almoça com famílias palestinianas no convento franciscano Casa Nova, depois do que recebe crianças dos acampamentos de refugiados Dehiyshe, Aida e Beit Jibrin, no Centro Phoenix do primeiro daqueles acampamentos.
Sua Santidade celebra duas missas públicas durante a sua peregrinação à Terra Santa: no estádio internacional de Amã e na Praça da Manjedoura, em Belém, esperando que cristãos da Faixa de Gaza sejam autorizados a viajar até à cidade onde nasceu Jesus. E haverá um lugar reservado para os cristãos da Galileia, a região onde Cristo foi criado, na cidade de Nazaré.
A convite de Sua Majestade
É em resposta a um convite do rei Abdullah II que o Papa Francisco I visita oficialmente a Jordânia, país muçulmano que sempre tem mantido muito boas relações com a Santa Sé.
A visita foi considerada pelo reino hachemita um importante passo para fomentar a fraternidade e a tolerância entre muçulmanos e cristãos, bem como para propagar a mensagem de paz que é apanágio de todas as regiões monoteístas.
Durante a sua estada, o chefe dos católicos debaterá com o rei Abdullah II as relações entre a Jordânia e o Vaticano, bem como alguns assuntos relacionados com a promoção da fraternidade e do diálogo essenciais para a coexistência islâmico-cristã; e em cima da mesa estarão também os mais recente desenvolvimentos no Médio Oriente.
Em Agosto do ano passado, o Papa Francisco manifestou-se tão encantado com os soberanos jordanos que, rompendo o protocolo, se inclinou respeitosamente perante a rainha Rania Al Abdullah, em vez de ter sido ela a fazer uma genuflexão perante ele.
Esta visita pontifícia ao Reino da Jordânia é já a quarta em meio século, tudo tendo começado quando em 1964 Paulo VI se
deslocou tanto aí como à Palestina, que nos tempos do Novo Testamento englobava os território de Galileia, Decápolis, Samaria, Pereia, Judeia e Idumeia. A segunda foi a do Papa João Paulo II, no ano 2000, e a terceira a do Papa Bento XVI, em 2009.
de imprensa na sede do Patriarcado.
14 intervenções
A agenda da peregrinação de Maio prevê 14 intervenções de Sua Santidade, entre homilias e discursos, bem como a assinatura da declaração conjunta com o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, a assinalar o 50 anos do encontro entre Paulo VI e Atenágoras.
Na Terra Santa, o Papa vai visitar, entre outros, o Santo Sepulcro, o memorial do Holocausto ,‘Yad Vashem’, o Muro das Lamentações e a Esplanada das Mesquitas.
Partindo do aeroporto de Fiumicino, em Roma, o Papa chega ao princípio da tarde de dia 24 ao Aeroporto Internacional Rainha Alia, em Amã, e dirige-se ao palácio real, para uma troca de impressões com os soberanos, depois do que preside à missa no estádio internacional.
Mais tarde, em Betânia, no local onde Jesus Cristo foi baptizado por João (enquanto o Epírito Santo descia sobre ele), à beira do rio Jordão, Francisco reúne-se com refugiados da martirizada Síria e com jovens deficientes.
Na Jordânia, em Amã, primeira etapa da viagem apostólica, o Papa vai reunir-se com o rei Abdullah e Rania.
Visita a Mahmoud Abbas
O domingo 25 de Maio começa com uma viagem de helicóptero até Belém, para uma visita ao Presidente do Estado da Palestina, Abu Mazen, sou Mahmoud Abbas, seguida da Missa na Praça da Mangedoura.
Depois do almoço com famílias palestinianas no convento Casa Nova, o Papa fará uma visita privada à Gruta da Natividade, local do nascimento de Jesus Cristo ("E tu, Bethleém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as capitais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há-de apascentar o meu povo de Israel", São Mateus 2,6).
Na sequência do encontro com as crianças dos campos de refugiados de Dheisheh, Aida e Beit Jibrin, o antigo arcebispo de Buenos Aires parte de helicóptero para o Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Telavive, onde discursa, antes de retomar o helicóptero, para Jerusalém.
Esta escala em Telavive é como que uma preciosidade diplomática. O Papa evita começar a visita a Israel pela cidade de Jerusalém, de modo a não chocar as susceptibilidades árabes, uma vez que os muçulmanos não reconhecem Jerusalém como capital israelita.
O último dia da viagem, 26 de Maio, principia com visitas ao grande mufti de Jerusalém, na Esplanada das Mesquitas, e ao Muro das Lamentações, seguindo-se a deposição de flores no Monte Herzl, o cemitério nacional de Israel.
O Papa Francisco vai discursar, depois, no mausoléu do Yad Vashem de Jerusalém, em memória das vítimas do Holocausto, visitando, em seguida, os dois grãos-rabinos de Israel, no centro He,ichal Shlomo.
O encontro com o Presidente de Israel, Shimon Peres, é no palácio presidencial, e a reunião com o primeiro-ministro Benyamin Netanyahu no centro Notre Dame.
No Monte das Oliveiras
A parte final da agenda vai decorrer no Monte das Oliveiras e inclui uma nova visita ao patriarca Bartolomeu, um encontro com o clero e religiosos católicos e a última Missa, com os bispos da Terra Santa, na sala do Cenáculo, em Jerusalém.
Toda a peregrinação deverá ser entendida como um grande apelo à paz, especialmente dirigido a palestinianos, israelitas, sírios e outros povos do Médio Oriente.
Os cristãos árabes necessitam enormemente do encorajamento pontifício, uma vez que o seu número continua a diminuir, devido à violência e às dificuldades económicas, que muitas vezes os fazem emigrar para longes terras.
"Como é grande a sua preocupação connosco. Creio que nos pedirá para sermos corajosos e para permanecermos", disse o Patriarca Twal, que é jordano. "Ficar nesta terra, viver nesta terra: vale a pena permanecer na Terra Santa, sofrer e morrer por ela".
Os cristãos do Médio Oriente são uma comunidade muito antiga, bem mais antiga do que a população muçulmana. Mas no Iraque, Síria, Egipto, Líbano e Palestina têm sido cada vez mais intimidados e assassinados, no meio de múltiplas convulsões.
O drama sírio
Um dos grandes dramas a ter em conta nesta ocasião é precisamente que o número de refugiados sírios ultrapassou, só no Líbano, o "número devastador" de um milhão, conforme referiu a ONU nos primeiros dias de Abril.
O Líbano tem agora a mais elevada concentração de refugiados per capita de todo o mundo e este é um dos assuntos a ter em conta durante as conversações do Papa Francisco com as autoridades da Jordânia, da Palestina e de Israel, pois que isto desestabiliza profundamente um já de si muito frágil ponto do globo.
Para além das suas muitas dificuldades internas, o pequeno Líbano tem agora às costas este gigantesco problema. Nove milhões e meio de sírios fugiram das suas casas desde o início do terrível conflito, tendo mais de dois milhões e meio deixado mesmo o país, indo para o Líbano, a Turquia, a Jordânia, o Iraque, o Egipto e outras paragens.
Como o mundo não é feito de compartimentos estanques, quando nos debruçamos sobre a peregrinação papal à Terra Santa temos forçosamente de ter em conta que um quarto da população do Líbano é nesta altura constituída por refugiados sírios, o que se repercute de modo assaz grave em todas as questões do Médio Oriente.
Pluralismo religioso
A visita do Papa Francisco destina-se a consolidar as boas relações que devem forçosamente existir entre muçulmanos e cristãos, bem como a contribuir para intensificar todos os apelos que têm vindo a ser feitos no sentido do respeito mútuo e do renovar de esforços no sentido de que se respeite o pluralismo religioso. Os crentes das diferentes religiões devem cooperar entre si, muito ninguém tem o direito de entender que a sua fé é mais importante ou mais justificável do que as demais.
"Necessitamos que o Papa traga paz a Jerusalém", disse por exemplo Mary Yadi, que é natural dessa cidade mas está a viver na paróquia de São José, em Amã. "O mundo necessita desesperadamente de paz. São precisas mais orações para que aconteça qualquer coisa de positivo".
Os católicos, os ortodoxos e os muçulmanos moderados, como o é o rei Abdullah II da Jordânia, tudo devem fazer para que todos aqueles que acreditam num só Deus contribuam para um mundo melhor, muito mais justo.
O actual Papa, tão conhecido pela sua simplicidade e humildade, ao estilo de São Francisco de Assis, aproveitará todo o tempo da sua peregrinação para se manter em espírito com o povo sírio, já que as circunstância não permitem de momento a sua tão desejada deslocação a Damasco.
A Síria e o Líbano acompanharão a par e passo tudo o que Francisco I fizer para minorar o sofrimento de todo o Médio Oriente, uma das mais conturbadas regiões do globo.
Todos terão em conta que se trata de um verdadeiro regresso às raízes do Cristianismo; às terras por onde andaram Jesus Cristo, Pedro e Paulo, fundando uma religião que hoje em dias não tem nelas o lugar que seria lógico ocupar.
No entender do jesuíta norte-americano Alfred J. Hicks, que desde há décadas presta serviço no Médio Oriente, primeiro no Iraque e depois na Jordânia, Francisco I "foi enviado pelo Espírito Santo para reformar a Igreja". E essa reforma tanto poderá ser feita em Roma como noutras paragens.
Milhões de refugiados
Tal como o Líbano, também a Jordânia conta hoje em dia com pelo menos um milhão de refugiados sírios, de modo que todos nós devemos compreender muito bem que a peregrinação pontifícia decorre num contexto geopolítico bastante complexo, que não poderá arrastar-se por muito mais tempo.
A excepcional abertura que ao longo dos tempos a Jordânia tem demonstrado para com os refugiados, sejam eles palestinianos, iraquianos ou sírios, justifica bem que o Papa comece em Amã o seu périplo de três dias. Até porque entre os actuais refugiados há 17 mil cristãos sírios, uma parte dos quais a caminho do Ocidente, dada a dificuldade de permanência nas terras onde deveriam estar, por serem as terras onde nasceu a sua religião.
A Santa Sé reforça nesta viagem os seus laços diplomáticos com a Jordânia, a Palestina e Israel, na prossecução de uma geopolítica que anda de mão dada com os mais profundos sentimentos humanitários, de modo a que não se diga que a Igreja Católica está a perder grande parte da influência que teve outrora nos assuntos mundiais.
quarta-feira, 2 de abril de 2014
MH370: Entra em acção um submarino britânico
A British submarine has joined the hunt for the missing Malaysia Airlines plane in the Indian Ocean and will try to detect pings from the aircraft's black box, adding to a growing search contingent that includes the private jet of film director Peter Jackson.
As Malaysian police warned the mystery of the plane's disappearance may never be solved, the Ministry of Defence revealed that HMS Tireless, a Trafalgar-class nuclear submarine, had arrived in the search zone and was due to begin searching on Wednesday.
Philip Hammond, the Defence Secretary, informed Hishammuddin Hussein, his Malaysian counterpart, about the deployment during a phone discussion on Tuesday night.
The submarine will have just days to detect pings from the black box before the pinger's 30-day batteries run out of life.
The Royal Navy ship HMS Echo, which can help to survey the ocean floor, was also due to begin searching, joining ten planes and eight other ships in a search zone west of Perth.
The multinational contingent also now includes a Gulfstream G650 owned by Mr Jackson, the Oscar-award winning director of The Hobbit and Lord of the Rings trilogies, New Zealand media reported. Mr Jackson approved the jet's use but it was reportedly chartered rather than donated.
No wreckage has yet been found from the plane since it disappeared with 239 passengers aboard on March 8.
Australian authorities said the search on Wednesday would cover an area of about 85,000 square miles but was facing heavy weather including "sea fog and isolated thunderstorms".
Families of some of the 153 Chinese passengers on the plane have travelled to Kuala Lumpur to demand that the government "reveal the truth" and have held a three-hour meeting with Malaysian aviation authorities.
Though some of the families have refused to give up hope of survivors, lawyers from a United States firm have swooped on the relatives at their hotels in Kuala Lumpur and Beijing to make pitches for a looming legal suit over the apparent crash.
Ribbeck Law, a Chicago-based firm which has acted in numerous plane crash lawsuits, has sent employees to Beijing and to Kuala Lumpur. The firm has already tried to force Boeing to produce documents but the petition was dismissed by a court in Illinois.
Malaysian police said a criminal investigation into the crash was ongoing but warned the cause may never be uncovered.
Khalid Abu Bakar, the police chief, said officers have interviewed 170 witnesses but the investigation could "go on and on and on".
"There are still more people we need to interview," he said.
"We have to clear every little thing... At the end of the investigations, we may not even know the real cause."
Authorities believe the disabling of the plane's communications systems and the strange turn westward shortly after take-off were deliberate. The police investigation has focused on Zaharie Ahmad Shah, the pilot, and Fariq Abdul Hamid, the co-pilot, but nothing suspicious about them or any other passengers has yet been found.
The Telegraph
terça-feira, 1 de abril de 2014
Excerto da epopeia suméria Gilgamesh, escrita em acádio
Quand revint le jour
Gilgamesh pleura sur le corps de son ami.
Oh toi mon ami, Enkidou,
toi qui à pour mère la gazelle
et pour père l'âne sauvage,
toi que les onagres ont nourri de leur lait,
que les cèdres te pleurent, et le jour et la nuit !
Que te pleurent les hautes cimes des montagnes,
que te pleurent les prairies
que te pleurent les ours
et que te pleurent les tigres
et les lions et les cerfs
et toutes les bêtes sauvages !
Que te pleure le fleuve.
Que te pleurent les laboureurs
et que te pleurent les artisans.
Et moi je me lamente.
Tu étais le secours de mon bras
un épée à ma ceinture
mon bouclier.
Oh mon ami
un mal étrange à moi t'a ravi
et tu ne m'entends plus.
Alors Gilgamesh
telle une lionne à qui on a pris ses petits
enleva ses riches vêtements,
les jeta loin de lui,
se vêtit de peaux de bêtes
et s'en alla au désert.
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