segunda-feira, 15 de outubro de 2012
A triste pátria que é Portugal
O Governo de Pedro Passos Coelho apresentou um Orçamento de Estado que castiga quase todos os portugueses com muito mais austeridade do que aquela que já sofriam desde há alguns anos. O clima é de enorme tensão.
Jorge Heitor
Neste recanto do extremo ocidental da Europa, as pessoas estão a viver hoje em dia muito pior do que há 13 ou 14 anos, sendo poucas as que conseguem manter o nível de vida que tinham durante a década de 1980.
Apesar do ambiente animado de cidades como Lisboa e o Funchal, em grande parte devido ao afluxo de turistas, vindos de muitos países, os portugueses que viveram com euforia o 25 de Abril de 1974 e que se julgaram felizes quando lhes disseram que iam entrar num mundo melhor, mais desenvolvido, mostram-se agora bastante cépticos.
A adopção da moeda única europeia, o euro, coincidiu com um agravamento geral das condições de vida da população, ao ponto de 16,5 por cento dos cidadãos com idade activa não conseguirem arranjar emprego. Muito em especial os mais jovens, os que vão saindo de escolas superiores com cursos que algumas vezes de pouco servem.
Este Portugal que há 40 anos se julgava uma Pátria pluricontinental, pois que ainda estava a administrar a Guiné-Bissau, Angola, Moçambique e Timor-Leste, é agora um país caído no desânimo, muito mais pequeno do que algumas das suas antigas colónias e sem saber muito bem qual é que será o dia de amanhã.
Há impostos que chegam a 37 e mais por cento do que aquilo que em teoria se ganha e há subsídios de férias que deixam de ser pagos, pelo que numerosas famílias se encontram endividadas e muita gente está a emigrar. A França, a Suíça, o Luxemburgo, o Reino Unido e a Alemanha são alguns dos destinos procurados pelos portugueses em busca de emprego.
Desaires sucessivos
Depois de há dois anos se ter concluído que o Governo socialista de José Sócrates não estava a agir bem, surgiu uma coligação PSD-CDS, liderada por Pedro Passos Coelho, que prometeu remediar o mal feito mas só conseguiu, na prática, agravar ainda mais as penas por que passam os cidadãos de Portugal.
Manifestações enormes, de 180.000 e 200.000 pessoas cada, têm percorrido as ruas de Lisboa, do Porto e de outras cidades, com gritos de revolta, por parte de um povo que não aguenta mais ter sido ludibriado nas suas esperanças de que algum dia poderia vir a ter um nível de vida equiparável ao dos franceses, alemães, britânicos ou holandeses.
Portugal está na cauda da Europa; é uma das ovelhas negras deste continente. E por isso anseia dramaticamente por um milagre, como seria o de o Presidente da República conseguir convencer socialistas, sociais-democratas e outros grupos a juntarem-se num autêntico Governo de Salvação Nacional.
Ufanava-se a Europa Ocidental de ser um modelo de democracia, com 10, 12 e mais listas a concorrerem a qualquer acto eleitoral; mas agora já começa a ver que não é a mera existência de eleições disputadas por uma dúzia de partidos que ajuda a resolver os problemas de um país.
Eventualmente, os portugueses poderão muito bem chegar à conclusão de que bastam sete ou oito formações políticas, se nelas existirem homens sérios, verdadeiramente empenhados em trabalhar para o bem comum.
É bem triste esta minha carta de Lisboa, hoje, pois tristes são os dias que se estão a passar; e o desalento impera. Daí o desabafo.
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