terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
"Revogai a ignorância; a velha lei do Estado!"
“Acendem-se na rua à noite os candeeiros,
Coloca-se um “gendarme” à porta dos banqueiros,
A Polícia fareja os becos e as vielas,
Dobram-se as precauções, dobram-se as sentinelas,
E apesar d’isto tudo há feras pela rua,
O vício não acaba, o roubo continua,
E é cada vez mais a criminalidade.
Pois bem, iluminai por dentro a sociedade.
Ponde o trabalho e a honra onde estiver a esmola,
Uni o amor ao berço e uni o berço à escola,
Acendei uma luz em cada coração.
Dai terra aos camponês que emigra; a emigração
É. como em Portugal presentemente a vejo,
Um esgoto da fome, um cano de despejo
Da miséria. Aboli dois grandes sorvedoiros:
Cadeias-tremedais e hospícios-matadoiros.
Forjai da redenção a esplêndida alvorada,
Libertai a oficina e libertai a enxada.
Fazei o bem, fazei a paz, fazei a glória.
Proclamai a instrução gratuita obrigatória,
Ter direito à ignorância é ter direito ao mal,
Alevantai o povo ao nível da moral,
A escola é para isso a única alavanca.
Vamos! Emancipai a escravatura branca.
E depois de ter dado enfim estas lições,
Podereis suprimir os vossos esquadrões,
Entregar à lavoira os braços dos soldados,
E caminhar na rua à noite, desarmados,
Deixando sem receio a vossa casa aberta;
Um polícia estará continuamente alerta,
Um polícia gratuito, universal, austero,
Vigiando e guardando assim como um cerbero,
Desde o melhor palácio à última choupana;
Esse polícia é Deus – a consciência humana.
Se acaso pretendeis sinceramente dar,
Uma grande lição austera e salutar,
Um exemplo viril e bom que frutifique,
Um exemplo que seja uma barreira, um dique
Ao cancro que nos mata, às lepras que nos mordem,
À fome, à estupidez, aos vícios, à desordem,
então olhai; é este o exemplo imaculado:
Revogai a ignorância; a velha lei do Estado!”
Abílio Guerra Junqueiro, de Freixo de Espada à Cinta
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