Depois de muita polémica, um antigo arcebispo católico de El Salvador, na América Central, está em vias de ser beatificado pela Igreja.
Jorge Heitor
O arcebispo Vincenzo Paglia, que na Cidade do Vaticano é o responsável oficial pela causa da beatificação do arcebispo Óscar Romero, anunciou neste último mês de Agosto que a causa da promoção aos altares de semelhante figura foi desbloqueada pelo Papa Francisco, crendo-se assim que o processo vai finalmente avançar.
Ao falar na cidade italiana de Molfetta, durante o vigésimo aniversário da morte do bispo Antonio "Tonino" Bello, Vincenzo Paglia, presidente do Conselho Pontifício para a Família, levantou o véu sobre a hipótese de se avançar finalmente num processo que tem deparado com dificuldades na Congregação para as Causas dos Santos.
O arcebispo Paglia disse que o Papa, ele próprio latino-americano, decidira desbloquear o processo de Óscar Belo, abatido a tiro no dia 24 de Março de 1980, enquanto celebrava missa.
Visto por muita gente como um herói, devido à sua solidariedade com os pobres e à sua denúncia dos abusos de que eram alvo os direitos humanos, Monsenhor Romero não era bem encarado em alguns sectores mais conservadores, devido às suas ligações com o movimento designado por Teologia da Libertação.
Se bem que os papas João Paulo II e Bento XVI tenham dito publicamente que Óscar Romero fora um mártir da fé, algumas pessoas alegam que ele foi morto por motivos sociais e políticos; e não pelo simples facto de ser um sacerdote católico.
Se realmente se confirmar que a Igreja Católica o considera mesmo um mártir, ele poderá vir a ser beatificado sem ter de estar à espera que se confirme se algum milagre foi ou não conseguido por seu intermédio.
Desde que o cardeal argentino Jorge Mário Bergóglio foi eleito Papa com o nome de Francisco, tem-se especulado no Vaticano e em El Salvador que será agora mais fácil beatificar Óscar Romero.
O antigo arcebispo de San Salvador tem sido encarado como alguém que nunca evitou dizer o que na verdade pensava, a favor de um mundo mais justo; sem nunca se importar se isso colocaria ou não em risco a sua vida.
Óscar Arnulfo Romero Galdámez, conhecido como Monsenhor Romero, nasceu em Ciudad Barrios, zona de San Miguel, em 15 de agosto de 1917 e foi o quarto arcebispo metropolitano de San Salvador, de 1977 a 1980).
Ordenado sacerdote em 4 de abril de 1942, foi nomeado bispo auxiliar de San Salvador em 25 de abril de 1970 e chegou a arcebispo em 3 de fevereiro de 1977, tendo aderido aos ideais da não-violência, posição que o levou a ser comparado ao Mahatma Gandhi e a Martin Luther King. E passou a denunciar, nas suas homilias dominicais, as numerosas violações de direitos humanos que eram cometidas em El Salvador, um pobre país da América Latina.
Monsenhor Romero defendeu que a Igreja Católica se deveria identificar com os pobres, em vez de alinhar com as classes mais abastadas. E por isso foi morto pela tropa de elite do Exército salvadorenho.
Em 2010, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou o dia 24 de março como o Dia Internacional pelo Direito à Verdade sobre as Graves Violações dos Direitos Humanos, em reconhecimento à atuação de Dom Óscar Romero em defesa dos direitos humanos.
Em 1997 o prelado vítima da violência militar foi declarado um "Servo de Deus" pelo papa João Paulo II. A sua beatificação e posterior canonização foram propostas à Santa Sé, mas depararam com grandes obstáculos porque em certos círculos das Américas e da própria Igreja Católica os que mais lutam pela justiça nem sempre são muito bem vistos.
Espera-se agora que o clima esteja finalmente a mudar um pouco, de modo a que daqui a algum tempo possamos ver nas igrejas imagens do Beato Óscar Romero, que aos olhos de muitos dos seus admiradores já é retratado mesmo como um santo, antes de formalmente ser proclamado como tal.
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