sexta-feira, 22 de maio de 2015

Thomas Sankara vai ser exumado

Promises par les autorités de transition, les opérations d'exhumation des corps supposés de Thomas Sankara et de ses douze camarades assassinés le 15 octobre 1987 débuteront le lundi 25 mai au cimetière Dagnoën de Ouagadougou. Après des années de blocage judiciaire, l'enquête sur l'assassinat du président Thomas Sankara va bientôt connaître un tournant décisif. Lundi 25 mai, trois experts - deux médecins légistes burkinabè et un français, le professeur Alain Miras - débuteront, sur ordre du juge d'instruction militaire François Yaméogo, l'exhumation des corps supposés du capitaine révolutionnaire et de ses douze camarades, au cimetière de Dagnoën, à Ouagadougou. >> Lire aussi Burkina Faso : l'affaire Thomas Sankara, chronique d'un déni de justice Selon Me Benewende Sankara, avocat de la famille de l'ancien chef de l'État, les opérations débuteront à 8h du matin en présence des familles des victimes. La première tombe ouverte sera très probablement celle de Thomas Sankara. Si l'ouverture des sépultures et les prélèvements ADN sur les corps supposés ne devraient prendre que quelques jours, l'analyse des résultats devrait, elle, être moins rapide. Selon une source proche du dossier, "les prélèvements seront sûrement analysés dans des laboratoires étrangers". Depuis la chute de Blaise Compaoré, le 31 octobre dernier, l'espoir de découvrir la vérité sur la mort du président Sankara a refait surface au Burkina Faso. Pour la première fois en près de vingt ans de procédures, un juge d'instruction a été nommé et chargé d'enquêter sur cette affaire d'État. Il a commencé par placer sous scellé, le 9 avril, les treize tombes présumées de Thomas Sankara et de ses camarades, assassinés par un commando d'hommes armés le 15 octobre 1987 au Conseil de l'entente. Il a ensuite entamé les auditions de témoins ou de proches des victimes. Mariam Sankara, la veuve de l'ancien président, a notamment été entendue pendant plus de huit heures le 18 mai, quatre jours après son retour symbolique à Ouagadougou. Lire l'article sur Jeuneafrique.com : Justice | Burkina : l'exhumation du corps supposé de Thomas Sankara débutera le 25 mai à Ouagadougou | Jeuneafrique.com - le premier site d'information et d'actualité sur l'Afrique Follow us: @jeune_afrique on Twitter | jeuneafrique1 on Facebook

Auf wiedersehen, Berlin!

Ao som de música russa, sento-me no sofá grande da sala; e sei que ali em frente alguém dança Hamlet. Tenho calor. Desaperto mais um dos botões da camisa. Tento fazer o mesmo ao cinto e vejo os turbantes dos árabes que porventura entraram agora em cena. O cão de pelo negro, encaracolado, dorme a meus pés. O gato repoisa no sofá ao lado. E a conversa agora é numa das línguas da antiga Jugoslávia. Aperta o calor. Sinto que a refeição me ficou pesada, mas também estou demasiado cheio para ir passear até ao parque. Peço ao cigano mais próximo que toque para mim, enquanto as jovens pioneiras cantam as marchas. Surge no ambiente o som de uma flauta; e com isto se interrompe a cena. Dia e meio depois, um parque, um relvado, à beira de um lago. Um sol esplendoroso. Ruído de helicóptero na paisagem. Árvores verde-escuras da Prússia. O creme de bronzear a derreter-se na cara. O velho, cheio de varizes, que coxeia. O cão que não quer ir até à água. Pachorrentamente deitado junto da bicicleta. Um parto difícil no centro da capital. Um homem que dá corda ao seu realejo. Um bar cheio de fumo. A voz de Sinatra. Um parque nocturno. As sombras que passeiam. Volkspark. Grunewald. Os marcos de um descanso berlinense. O pai que brinca com a filha. O suor que escorre pelo rosto. Os corpos desnudos. As bombas que rebentam. Jugoslavos e turcos trabalham na cidade. Os carros blindados continuam a passar. Intensifica-se o som de um helicóptero. Surgem bandas na avenida. Ladra um cão. É o tempo berlinense. A saudade de uma Prússia perdida. Bitte Schön. Danke Schön. O Tédio. Jorge Máximo Heitor, Agosto de 1973

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Togo, um país infeliz

As eleições presidenciais nada mudaram num território que o explorador Gustav Nachtigal anexou em 1884 em nome do imperador da Alemanha e ao qual deu o nome de Togo, que era apenas o de uma aldeia. O pequeno país continua a ser um dos mais infelizes ao cimo da Terra. Jorge Heitor ________________________________________ O Tribunal Constitucional do Togo confirmou que o Presidente cessante, Faure Essozimna Gnassingbé, conseguiu um terceiro mandato, com 58,77 por cento dos votos expressos, numa eleição realizada dia 25 de Abril, tendo derrotado, entre outros, o líder da oposição, Jean-Pierre Fabré, de 62 anos, que liderava a coligação Combate por uma Alternância Pacífica (CAP 2015). Esta vitória faz com que a mesma família acabe por continuar no poder durante mais de meio século, dado que Gnassingbé é Presidente desde 2005, tendo sucedido a seu pai, Eyadema, que estivera 38 anos na chefia de uma unidade territorial que chegou a fazer parte da colónia modelo do antigo império colonial alemão. O Tribunal Constitucional disse que Fabré obteve 35,19 por cento dos votos, indo o resto para os demais candidatos, que à partida já se sabia que não iriam ter qualquer hipótese: Aimé Tchabouré Gogué (ADDI), Gerry Taama (NET) e Mohamed Tchassona Traoré (MCD) obtiveram 4,03 porcento, 1,03 porcento e 0,90 porcento dos sufrágios, respectivamente De nada serviu Jean-Pierre Fabré ter considerado os resultados fraudulentos; e no Togo não existe qualquer limite legal para o número de mandatos que um Presidente pode ter, de modo que o actual status quo se poderá arrastar ainda durante muito tempo. De pai para filho Faure Gnassingbé é filho de uma senhora do Sul do país, Sabine Mensah, e de um Presidente no Norte, o velho ditador Eyadema Gnassingbé, tendo nascido em 6 de Junho de 1966, predestinado a dar continuidade a uma dinastia que começara em Abril de 1967. Tendo passado pela academia militar de Saint-Cyr e pela Universidade Paris-Dauphine, na França, o homem agora reeleito Presidente do Togo é titular de um Master of Business Administration (MBA) obtido na Universidade George Washington, dos Estados Unidos. Em 1999 foi eleito deputado por um círculo do centro do pequeno país, tendo ido logo parar à presidência da comissão parlamentar de Relações Exteriores e de Cooperação, para em 2003 conseguir ser reeleito deputado o obter o lugar de ministro do Equipamento, das Minas, dos Correios e das Telecomunicações. Era aí que estava quando o pai morreu, em 5 de Fevereiro de 2005; e o Exército colocou-o de imediato no poder, perante grande escândalo da comunidade internacional, que obrigou a que houvesse eleições, que ele naturalmente ganhou, dado o grande peso da máquina partidária do Rassemblement du peuple togolais (RPT), que fora criado em Agosto de 1967, como partido único. No entanto, de modo a que algo mudasse, para que tudo ficasse praticamente igual, o novo Presidente distanciou-se progressivamente do RPT e lançou, em Abril de 2012, a União para a República (Unir), com uma nova geração de ministros e de conselheiros. Foi aquilo a que se costuma chamar a renovação na continuidade; pouco mais do que uma operação de cosmética. 1,2 milhões de votos Faure Gnassingbé conseguiu agora 1,2 milhões de votos, face aos 692.584 do seu principal adversário, que falou de irregularidades havidas durante o escrutínio. Jean-Claude Codjo, da Comissão Nacional de Eleições, chegou a abandonar uma reunião, alegando "falta de transparência" em todo o processo. Mas nada disso impediu que o herdeiro do velho general Eyadema continue em cena por mais cinco anos, pelo menos, no âmbito de um esquema de perpetuação que conhecemos numa série de outros países africanos, como o Chade, os Camarões, Angola ou o Zimbabwe. A afluência às urnas foi de apenas 40 por cento, uma vez que a maioria da população já nem acredita muito na forma como as coisas se processam, numas terras que em Agosto de 1914 foram conquistadas aos alemães por forças franco-britânicas, numa campanha militar de escassas três semanas. Depois da II Guerra Mundial, a parte do Togo que estava a ser administrada pelo Reino Unido juntou-se à Gold Coast, para dar o Ghana, enquanto o território sob tutela francesa se tornou independente em 27 de Abril de 1960. Os primeiros anos de vida da República foram dominados por dois políticos, Sylvanus Olympio e Nicolas Grunitsky, até que em 1967 ela se tornou um feudo da famíla Gnassingbé. O país mais infeliz Num relatório internacional sobre felicidade, recentemente elaborado por um catedrático canadiano, um norte-americano e um britânico, o Togo é considerado o mais infeliz dos 158 países analisados, talvez pela falta de uma verdadeira democraticidade; e até porque, entre uma série de outros factores negativos, não existem empregos suficientes. O Produto Nacional Bruto per capita cifra-se nuns míseros 380 dólares (muito inferior ao do Quénia, de Marrocos, da Nigéria ou da África do Sul). Tendo a norte o Burkina Faso, a ocidente o Ghana e a leste o Benin, o Togo, com os seus escassos 57.000 quilómetros quadrados e a capital em Lomé, tem 6,7 milhões de habitantes (3,5 milhões de eleitores) e um clima tropical, sub-sariano, dependendo essencialmente da agricultura. Tendo em conta que já fez parte de uma colónia alemã e que depois esteve sob tutela de outras potências europeias, ainda não conseguiu desenvolver uma autêntica e sólida unidade nacional, até porque nele vivem perto de 40 grupos étnicos, a começar pelo Ewe, que representa 32 a 40 por cento da população e que domina o Sul. Um pouco mais de metade dos togoleses professam crenças indígenas, 29 por cento são cristãos e 20 por cento muçulmanos, havendo ainda um longo trabalho a fazer para superar todas estas clivagens, tanto as linguísticas como as religiosas. A etnia Kotokoli predomina no Centro e a Kabye (22 por cento da população) no Norte. As línguas do país correspondem às divisões étnicas, sendo a Ewe (ou evhé) a língua veicular no Sul, a parte mais aberta ao exterior; mas o francês tem vindo a ser progressivamente compreendido e falado nos últimos 50 anos. O factor racial Um dos motivos porque Jean-Pierre Fabré não conseguiu chegar a constituir uma alternativa de peso a Gnassingbé é o de ser mestiço, filho de um pai de origem francesa e de uma mãe togolesa, numa África Negra onde muitas vezes a miscigenação não é bem vista. Toda a sua carreira foi feita à sombra do adversário histórico dos Gnassingbé, Gilchrist Olympio, filho do Presidente Sylvanus Olympio, assassinado em Janeiro de 1963, no decurso de um golpe de estado, protagonizado pelo então sargento Etienne Eyadema e que colocou na chefia do Estado Nicolas Grunitsky. Eyadema, que viria a trocar o nome pouco africano de Étienne pelo de Gnassingbé, ficou então na sombra, por quatro anos, até que em 1967, já tenente-coronel, deu novo golpe e ficou ele mesmo como senhor todo poderoso, sem qualquer sombra de dúvida. A vitória acabou por caber, uma vez mais, à política de nacionalismo económico e cultural herdada do RPT, o partido do velho general Eyadema, que com a Nigéria promoveu a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), cuja carta foi assinada em Lomé, por 16 países, no ano de 1976. Foi sob pressão internacional que em 1993 o ditador legalizou os partidos da oposição e convocou eleições formalmente multipartidárias, que arranjou maneira de ganhar, com 96 por cento dos votos oficialmente expressos. Os 55 quilómetros de litoral togolês situam-se integralmente na região que no século XVII foi baptizada como Costa dos Escravos; e, por ironia do destino, os togoleses hoje em dia já não são de forma alguma escravos dos ingleses e holandeses de antanho, mas sim cativos de uma família política que se instalou no poder durante a década de 1960 e que parece não fazer a mínima intenção de o deixar tão depressa. 7 de Maio de 2015

terça-feira, 5 de maio de 2015

Cante Alentejano na Ovibeja

A Ovibeja, grande realização agropecuária e industrial que todos os anos se realiza na cidade portuguesa de Beja, foi desta vez, nos últimos dias de Abril e primeiros dias de Maio, dedicada ao Cante Alentejano, uma forma de música coral recentemente reconhecida como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Um dos pavilhões da enorme feira, que atraiu muitos milhares de visitantes, foi especialmente dedicado à apresentação daquele género musical, que a par do Fado é um dos que mais se destacam em Portugal e marcam a identidade cultural do país. Fora de Beja, também Cuba, Serpa, Moura e outras localidades da região ostentaram nas fachadas dos seus edifícios públicos faixas de homenagem a uma expressão artística que tão bem traduz a alma do Alentejo, território vasto dominado pelas plantações de sobreiros, de onde se extrai a cortiça. Em cada Cante, em cada palavra cantada, o povo alentejano lembra o muito que tem sofrido ao longo dos tempos, mormente no tempo em que as suas terras se encontravam sobretudo na posse de grandes latifundiários, auferindo os trabalhadores, ou ganhões, salários que se poderiam considerar de miséria. Era assim há 45 ou 50 anos, antes do 25 de Abril de 1974 e da Reforma Agrária, que muito vieram modificar a forma de vida em todo o Alto e Baixo Alentejo, que se situam sensivelmente num espaço que vai de 70 a 250 quilómetros a partir de Lisboa, para Sul e Sueste. Hoje em dia, para além do tradicional sobreiro, o Alentejo também é muito conhecido pelas suas vinhas, das quais se extrai um vinho delicioso, cada vez com mais clientes. E não deixa de ter praias bem conhecidas, como Porto Covo, Vila Nova de Milfontes ou Zambujeira do Mar. O Cante é pois um grande hino a uma terra em evolução, terra onde os naturais deixaram de ser explorados como tantas vezes acontecia, tanto nos campos como nas minas. Hoje em dia há mais justiça, as pessoas sentem-se melhor, em municípios como Évora, Beja, Cuba, Serpa, Moura, Alvito ou Vidigueira. E por isso sabe sempre bem visitar ou passar alguns dias no Alentejo, uma vastidão tranquila, de grande sossego. JH 5 de Maio de 2015