sábado, 12 de dezembro de 2015
Samakuva reeleito presidente da UNITA
Entre 3 e 5 de Dezembro, decorreu nos arredores de
Luanda o XII Congresso da União Nacional para a Independência
Total de Angola (UNITA). Com 82,8% dos
votos, Isaías Samakuva foi reeleito presidente do ‘Galo
Negro’ pela quarta vez. Escolhido pelos delegados pela
primeira vez em 2003, Samakuva lidera a UNITA ininterruptamente
há 12 anos e prepara-se agora para se
candidatar, uma vez mais, à presidência de Angola nas
eleições gerais previstas para Agosto de 2017. Dito por
outras palavras, desde a morte de Jonas Savimbi, em
Fevereiro de 2002, que em tempos de paz a UNITA só
conheceu um líder.1
Correndo o risco de comparar o que não é comparável,
importa assinalar que a resiliência política de Samakuva
na liderança da UNITA é relativamente semelhante à de
José Eduardo dos Santos à frente do Movimento Popular
de Libertação de Angola (MPLA). Mas se a longevidade
de José Eduardo dos Santos é relativamente fácil de
compreender, o mesmo não se pode dizer da resiliência
de Samakuva. No essencial, mas não em exclusivo, a
1 Samakuva enfrentou sempre candidaturas alternativas. Em 2003 derrotou
Lukamba Gato e Dinho Chingunji; em 2007 venceu Abel Chivukuvuku; em 2011
derrotou José Pedro Kachiungo. Desta vez enfrentou Lukamba Gato, uma vez
mais, e Abílio Kamalata Numa.
A longevidade de José Eduardo dos Santos assenta na distribuição
eficaz das benesses decorrentes do exercício
do poder político. De certo modo, o MPLA é o Estado e o
Estado é o MPLA, sendo que José Eduardo dos Santos é
quem tutela de forma exímia todo o processo.
Sem benesses para distribuir, a sobrevivência política de
Samakuva na liderança da UNITA é mais difícil de explicar,
mesmo tendo em conta que os últimos 12 anos não
foram isentos de sobressaltos. Em Março de 2012, por
exemplo, em ruptura com Samakuva, destacados dirigentes
da UNITA, entre eles Abel Chivukuvuku, abandonaram
o partido e fundaram uma nova força política, a Convergência
Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral
(CASA-CE). Esta importante cisão terá sido o mais duro
golpe político que a UNITA enfrentou nos tempos mais
recentes. Porém, com maior ou menor dificuldade, é um
facto que Samakuva sobreviveu às hecatombes nas eleições
legislativas de Setembro de 2008 e, mais recentemente,
nas eleições gerais de Agosto de 2012. Em parte,
por paradoxal que possa parecer, a explicação para
as suas sete vidas políticas poderá estar na irrelevância
da própria UNITA. Sem que seja previsível a ascensão da
UNITA ao poder, o partido do ‘Galo Negro’ vive fechado sobre
si próprio, sem grande capacidade de atracção de jovens
quadros, e disso tira proveito Samakuva que, ao lon-
11 DE DEZEMBRO DE 2015
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A reeleição de Samakuva: uma boa notícia IPRIS Comentário para José Eduardo dos Santos | 2
go dos anos, teceu uma elaborada teia de cumplicidades
e de lealdades. De certo modo, a UNITA é um partido de
nicho e de nicho continuará a ser no curto e médio prazo.
Independentemente dos motivos que estão por detrás
da sobrevivência política de Samakuva, a sua reeleição
inequívoca não é uma boa notícia para a UNITA e
para Angola. Mesmo tendo em conta que Samakuva
contestou a forma como decorreram as eleições de
2012, não há nenhuma razão para acreditar que em
2017 a UNITA terá um desempenho político substancialmente
muito diferente daquele que teve em 2008
e 2012.
Incapaz de se renovar ao mais alto nível, a UNITA continuará
a ser incapaz de agregar à sua volta os descontentes
com a eterna presença do MPLA na liderança de
Angola. Nessa medida, os fenómenos de contestação
política contra José Eduardo dos Santos tenderão a
manter uma natureza inorgânica, como é o caso do activista
Luaty Beirão.
Nesta altura, não é ainda claro se José Eduardo dos Santos
pretende candidatar-se a um novo mandato presidencial.
Em todo o caso, no limite a sua intenção ficará
obrigatoriamente clarificada no VII Congresso do MPLA
que se realizará em Agosto de 2016.
Ironicamente, pode dizer-se que em sentido figurado a continuidade
de Samakuva — e o que ela representa em termos
de ausência de alternativas e de renovação da UNITA — é
em parte um precioso seguro de vida para José Eduardo dos
Santos. Ainda que Angola viva actualmente um ciclo económico
adverso e muito difícil, com todas as implicações políticas
e sociais que daí decorrem, a eventual reedição em 2017
do confronto eleitoral de 2012 — entre José Eduardo dos
Santos, Isaías Samakuva e Abel Chivukuvuku — não terá, em
circunstâncias normais, grande história para contar.
Naturalmente, a perpetuação do MPLA no poder constitui
um problema, mas no actual contexto político a UNITA
e a CASA-CE não se afiguram como parte integrante
de qualquer solução alternativa.
| Paulo Gorjão IPRIS
quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
Isabel-Victoria da Motta
No seu vigésimo quarto livro, “Um copo cheio de vinho novo”, a escritora portuguesa Isabel-Victoria da Motta dedica-se à criação literária sobre a história verídica de uma mulher, Lydia, hoje “já de certa idade”.
O que Isabel-Victoria realmente pretende abordar neste romance é o acordar espiritual de Lydia, que há tempos conheceu por acaso, em Montmartre, onde tem um estúdio.
Vivendo actualmente entre Lisboa e Paris, a autora dos poemas de “Tantin, a raiva da tarântula” e dos contos “Bateu Asa, Voltou” já está nesta altura a preparar um novo romance, que se deverá chamar “A Certeza das Coisas”.
Assim prossegue a carreira de quem diz escrever livros “para quem gosta de literatura”; e de vender muito, “sem precisar de escândalos ou cunhas”.
A obra actualmente à venda, e que abre com um citação do Salmo 45, tem design gráfico, correcção e revisão de texto de Paulo Correia Nunes, capa de Telmo Bento e pesquisa histórica de Kenneth Saint-Jacques. Foi impressa na Gráfica Almondina, de Torres Novas e preenche 276 páginas.
Poderá servir como introdução ao universo literário de uma mulher que em tempos, quando trabalhava no Teatro, no Cinema e na Televisão, com o nome de Isabel Mota, chegou a ser considerada por alguns “excêntrica e doida”.
Hoje em dia, Isabel-Victoria é uma mulher que veste muito bem e que assina livros no Chiado, à porta da Bertrand, enquanto o Natal não chega.
Depois, quando vier a Primavera, é muito provável que bata asas e vá uma vez mais até Paris, onde em 1989 se instalou.
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
Ceuta, por Xavier de Figueiredo
O livro "Ceuta primeira conquista de Portugal além-mar" é uma reconstituição histórica de um feito ou acontecimento que afirmou Portugal como nação que não se restringia ao espaço do Minho ao Algarve e lhe abriu as portas de um extenso império, que ia do Norte de África ao Extremo Oriente.
Nesta obra, com um prefácio do almirante Vieira Matias, o jornalista Xavier de Figueiredo, colaborador da Prestígio, conta o início da expansão de Portugal na África, na Ásia e nas Américas, antes de se terem povoado a Madeira, os Açores e as ilhas de Cabo Verde.
Aconteceu isso no reinado de D. João I, casado com a inglesa D. Filipa de Lencastre e pai de infantes tais como D. Duarte, D. Pedro, D. Henrique e D. Fernando.
A casa real portuguesa era profundamente cristã e entendia ser seu dever levar ao continente africano a fé que professava, de modo a tentar conseguir um retrocesso dos muçulmanos, que na altura em que Portugal se formou ainda dominavam uma grande parte da Península Ibérica.
Nesta edição da Monitorius, com ilustrações do contra-almirante João Braz de Oliveira, fala-se da nobreza e do brilho da cidade que os portugueses encontraram no litoral de Marrocos; e que ainda hoje se encontra adstrita a uma administração europeia, mais precisamente à espanhola.
É, pois, um livro de grande importância, este em que se descreve a forma como frotas reunidas no Porto e em Lisboa passaram por Lagos, no Algarve, e tomaram finalmente Ceuta, onde causaram uma grande mortandade.
O próprio rei D. João I e os seus filhos participaram na aventura, ao contrário do que acontece hoje em dia, quando ninguém vê um Presidente dos Estados Unidos ou da Rússia seguir à frente das tropas que são enviadas para os mais diversos territórios.
São mais de 170 as páginas em que Xavier de Figueiredo, natural da província do Huambo, em Angola, nos fala de Ceuta, de Tânger e de Alcácer Quibir, três nomes muito associados a tudo o que se fez, durante mais de século e meio, para que Portugal procurasse controlar o Noroeste da África, desde o Estreito de Gibraltar até às alturas da Mauritânia.
Ceuta viria a ser perdida por Portugal no século XVII, mas ficou como a memória de um povo que ousou ir mais além, não se contentando com as praias do Algarve, por mais belas que elas fossem.
Ousou até poder, até à segunda metade do século XX, quando começaram a soprar impetuosamente os Ventos da Mudança e foi imprescindível descolonizar.
É assim a História. Impérios que nascem, que se arrastam no tempo e depois morrem, para dar origem a outras realidades.
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