segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Cenas de Luanda

por Rafael Marques de Morais - 22 de Setembro, 2013 A 20 de Setembro, sexta-feira passada, fui assistir ao julgamento dos nove manifestantes detidos a 19 de Setembro, no Largo da Independência, em Luanda. Cheguei ao Tribunal de Polícia na companhia dos advogados da Associação Mãos Livres, Salvador Freire, Zola Bambi e Afonso Mbinda. Levava comigo, a tiracolo, a minha câmara fotográfica. A audiência era pública, havia espaço para mais um, mas o sargento da polícia impediu a minha entrada. Alegou que só os advogados podiam entrar. O tribunal situa-se num edifício residencial. No exíguo corredor, à entrada da sala de audiências, estavam sentados, num banco corrido, seis ou sete agentes policiais. O ar era abafado, de fedor humano. Um agente policial impediu a minha entrada na sala de audiências. Não contestei. Retirei-me do local e aguardei à entrada do prédio. O Manuel de Vitória Pereira, de 55 anos, tarimbado sindicalista e dirigente do Bloco Democrático, foi o primeiro a sair em liberdade. O professor distribuía panfletos do seu partido, nas imediações do Largo da Independência, quando foi detido. A defesa pediu que o julgamento sumário fosse registado em acta. Sem o registo, a juíza poderia ditar a sentença sem admissão de recurso. Para economia de tempo, a juíza adiou o julgamento para a próxima segunda-feira, às 8h30, e decidiu a favor da liberdade preventiva dos réus, sob termo de identidade e residência. Adolfo António, Adolfo Pedro, Amândio Canhanga, António Ferreira, Joel Francisco, Pedro Teka e Roberto Gamba e Quintuango Mabiala, receberam as suas solturas. Notava-se um entusiasmo, a celebração crescente à medida que os jovens libertados saíam do edifício exibindo orgulhosamente o seu sofrimento, as ordens de soltura e as feridas resultantes dos actos de espancamento e tortura a que foram submetidos nas esquadras policiais. Maka Angola

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