Não é a simples saída de Indjai que resolve os problemas da
Guiné-Bissau
Jorge Heitor
Claro que foi muito bom saber que o
general golpista António Indjai tinha deixado de ser esta semana Chefe do
Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, mas a sua simples
exoneração, e substituição pelo brigadeiro Biaguê Nan Tan, não resolve os
múltiplos e antiquíssimos problemas do país.
Os antigos Combatentes da
Liberdade da Pátria têm sido um empecilho para uma Guiné-Bissau inteiramente
nova, que nada tenha a ver com as questiúnculas do tempo em que foi gerada e das
suas primeiras décadas como país independente.
Sendo o brigadeiro general
Biaguê Nan Tan um antigo vice-chefe do Estado-Maior do Exército, que entretanto
passara efemeramente por chefe da Casa Militar do Presidente José Mário Vaz, não
é de forma alguma uma personalidade alheia à oficialidade que nestes últimos
anos tem estado na mó de cima, sempre pronta a interferir nos assuntos
políticos.
Antigo Combatente da Liberdade da Pátria, portanto pessoa que há
umas boas quatro décadas anda fardada, de armas na mão, não representa de forma
alguma o sangue novo do que o país precisaria; uma classe castrense que fosse
altamente profissionalizada e que não eivasse dos vícios que tanto prejuízo têm
causado aos guineenses.
Chefe das brigadas operacionais das Alfândegas quando
o actual Presidente, José Mário Vaz, era ministro das Finanças, o brigadeiro
general Biaguê Nan Tan não será o oficial impoluto, relativamente jovem, de que
o seu país precisaria para dar uma grande reviravolta nas estruturas militares,
que se encontram absolutamente caducas.
Ao escolher um amigo, e um homem da
etnia balanta, maioritária, o Presidente da República terá julgado proceder bem,
mas é ainda muito cedo para se dizer se o escolhido tem condições para ficar
muito tempo no cargo, antes de que a médio prazo surja uma daquelas intentonas
em que a Guiné-Bissau é tão pródiga.
Antes de optar por este elemento da
velha guarda, de uma velhíssima guarda que vem dos idos de 1973 e 1974, José
Mário Vaz ouviu um Conselho de Defesa em que pontificam figuras tão pouco
recomendáveis como o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general Papá Camará,
cujo lugar deveria ser talvez atrás das grades, uma vez que já foi acusado a
nível internacional de se encontrar implicado no narcotráfico.
Outro dos
homens com assento no Conselho da Defesa é o vice-chefe do Estado-Maior General
das Forças Armadas, general Mamadu Turé, "Nkrumah", tal como Papá Camará alvo de
sanções da União Europeia, por ao longo dos anos não ter sabido respeitar o
poder civil, mas antes alinhado em conjuras e em manobras golpistas.
Por tudo
isto e por muito mais é que não deito foguetes quando leio que o general António
Indjai foi finalmente exonerado da chefia do Estado-Maior General das Forças
Armadas guineenses para dar o lugar a outro oficial general balanta, que não é
jovem nem nos dá grandes garantias de se comportar de uma forma substancialmente
diferente da de um qualquer Papá Camará, Mamadu Touré ou Daba Na Walna.
Para
se salvar, a Guiné-Bissau precisa de reformas muito mais profundas, de há muito
prometidas e de há muito adiadas. Esperemos que o Presidente José Mário Vaz e o
primeiro-ministro Domingos Simões Pereira ainda tenham a oportunidade de as
promover, antes de que novos Indjais se lhes atravessem no caminho.
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