quarta-feira, 23 de maio de 2012

As presidenciais egípcias

Raúl M. Braga Pires, em Rabat (www.expresso.pt) 2:38 Quarta feira, 23 de maio de 2012 O desafio nestas eleições presidenciais é não se colocarrem todos os ovos no mesmo cesto e eleger-se um candidato que contraponha o peso deste Parlamento, começando pela redacção da próxima Constituição, que definirá os poderes daquele que será agora eleito Presidente. Após um processo selectivo, no qual foram eliminadas algumas candidaturas, eis que se chega aos dias das primeiras eleições presidenciais do pós-regime Mubarak, 23 e 24 de Maio. Da dúzia de candidatos, convém reter-se sobretudo os seguintes nomes: Abdel Moneim Aboul Fotouh, candidato independente, médico, Secretário-Geral da União Médica Árabe, ex-membro do Gabinete d'Orientação da Irmandade Muçulmana (IM), tem como mote da sua campanha a educação e o facto de reservar 40% do orçamento egípcio para esta rúbrica. Pugna por um Islão moderado, tendo um discurso que tenta atingir o mainsteam egípcio e a verdade é que entre os 100.000 voluntários que tem a trabalharem na sua campanha, tem desde salafistas a laicos, passando por cristãos coptas, membros activos da IM e outros sectores da sociedade egípcia. As razões pelas quais cindiu com a IM, devem-se sobretudo a dois factores. Defende que a Irmandade não deve ter um braço político, devendo dedicar-se em exclusivo à obra social. Por outro lado, também defende que a IM deverá legalizar-se e marcar assim uma ruptura com o passado e tornar-se uma organização tranparente, sobretudo relativamente a quem é quem dentro da organização, bem como à gestão dos dinheiros. Mohamed Morsy, Secretário-Geral do Partido Justiça e Liberdade, o braço político da Irmandade Muçulmana, é o candidato desta "confraria", da qual também já foi membro do Gabinete d'Orientação. Surge em substituição do Vice-Guia Supremo da Irmandade, Mohamed Khairat Saad El-Shater, aparentemente saneado desta eleição por não ter o cadastro limpo. Sujou-o nos tempos de Mubarak e certamente que muitos dos que o meteram na cadeia desde 2007 até Março de 2011, serão os mesmos que o impediram agora de se candidatar. O mote da campanha de Morsy traduz-se por Ennahda, Renascimento, um conceito muito caro a todos aqueles que apelam a um regresso às raizes, para depois desabrocharem numa fonte de rejuvenescimento colectivo. Esta ideia da correcção, do processo de reacertar a mira, é muito querido a qualquer islamista, consciente da imperfeição do Homem e da necessidade da passagem por este processo, no caminho da "perfeição" e de uma maior proximidade entre a Criatura e o Criador. Amr Mussa, candidato independente, ex-Secretário Geral da Liga Árabe de Junho de 2001 a Junho de 2011, ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros de Hosni Mubarak de 1991 a 2001 e o homem que a 28 de Janeiro do ano passado, a Sexta-feira da Raiva, enfiou Mohamed El Baradei num chinelo, ao misturar-se com a multidão na Praça Tahrir, enquanto este falava às grandes cadeias televisivas internacionais, do conforto do jardim de sua casa, sobre as suas intenções em se candidatar a Presidente do Egipto. Baradei não chegou se quer a ser candidato. É precisamente no ponto da experiência e prestigio internacionais, que acenta o mote da campanha de Mussa, o qual também diz que conseguirá reduzir drasticamente o desemprego. Ahmed Shafik, candidato independente, Comandante da Força Aérea Egípcia e o último Primeiro-Ministro de Hosni Mubarak. Este candidato é claramente apoiado por figuras ligadas ao regime do "Último Faraó", o que levanta fortes resistências e desconfianças na população. O mote da sua campanha, neste momento de escatologia primaveril em que tudo se pode dizer, é um prático "Acções e Não Palavras!" O próximo Presidente da República Árabe do Egipto, tem que garantir três coisas aos militares do Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA). Que a paz com os israelitas não será denunciada (Acordos de Camp David), em segundo garantir aos militares que hipotéticas futuras privatizações em vários sectores da economia não farão demasiadas interferências com os seus interesses pessoais e corporativos, já que os militares controlam cerca de 40% da economia do país. Por último, que o dossiê Processo de Paz Israelo-Palestiniano continurá a ser gerido pelo Serviço Geral de Inteligência do Egipto (SGIE). O CSFA, por via das dúvidas, mantém a seguinte carta na manga. O Egipto, de momento, vive sem Constituição, pelo que aquele que virá em breve a ser eleito (2ª volta a 16 e 17 de Junho) Presidente, não faz ainda ideia de quais serão os seus poderes, nem qual será o sistema de governo, sendo que começa a ser consensual que o país rejeitará à partida um Presidencialismo rigido, como o que teve desde o Golpe d'Estado dos Oficiais Livres. Por outro lado, a Comissão da Constituinte, será constituida por 100 deputados no sentido proporcional ao peso de cada partido com assento parlamentar. Ora o Partido Justiça e Liberdade da IM e o Partido salafista Al-Noor, representam 70% da Assembleia. O que o CSFA quer evitar a todo o custo, é uma situação em que todos os ovos sejam colocados no mesmo cesto, pelo que o próximo Presidente egípcio terá de sair de um acordo entre votos, militares e o próprio candidato. Pessoalmente, aposto numa segunda volta entre Abdel Moneim Aboul Fotouh e Amr Moussa, o que também garantirá logo à partida uma outra condição fundamental para a ruptura com uma prática já consuetudinária neste país. A de o próximo Presidente ser, pela primeira vez desde 1952, civil e não militar. Ler mais: http://expresso.sapo.pt/maghreb--machrek=s25484#ixzz1vgMxYtWh

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