domingo, 20 de maio de 2012
Bouteflika aguenta-se bem
Raúl M. Braga Pires, em Rabat (www.expresso.pt) 17:42 Sábado, 19 de maio de 2012 Uma semana após as eleições legislativas do dia 10, o debate na Argélia faz-se em torno da transparência das mesmas e respectivos resultados. Pessoalmente, não me espanta que a Frente de Libertação Nacional (FLN), do Presidente Abdelaziz Bouteflika, tenha tido a votação expressiva que teve, já que estas eleições permitiram, sobretudo, julgar a gestão que o regime efectuou da "Primavera Árabe". E se as coisas ao nivel internacional correram mal para a Argélia, fruto do apoio incondicional dado à Líbia de Kadhafi, enquanto este resistia às investidas da NATO, ao nivel interno, as coisas correram bastante bem a Bouteflika e ao seu regime. Não conseguiu evitar demonstrações violentas do descontentamento popular, mas conseguiu evitar que essas imagens passassem para o exterior. Há 2 meses, um Chefe de Polícia referia que durante o último ano foram contabilizadas 9.410 manifestações violentas em todo o território, das quais resultaram mortos e feridos (números desconhecidos). Não se pode dizer que a situação seja totalmente calma e tranquila. No entanto, logo após as quedas de Ben Ali e de Hosni Mubarak, Bouteflika aumentou os ordenados dos funcionários públicos em cerca de 10% (voltou a fazê-lo em Janeiro deste ano), bem como garantiu e aumentou as subvenções aos bens de primeira necessidade, acrescentado o açucar e o óleo vegetal à lista já existente e que continha o leite, o pão e demais legumes secos. De tal forma, que o Banco Central argelino teve que criar uma nova nota de 2.000 Dinares (a mais alta que tinha era de Mil) para poder responder aos novos compromissos assumidos. Por outro lado, a Argélia tem vindo a negociar com os Clubes de Paris e Londres, desde 2005, o pagamento da sua dívida externa, a qual é praticamente residual de momento (será inferior a 500 milhões de dolares). Em paralelo, tem optado por não recorrer aos empréstimos externos, livrando-se assim cada vez mais da tutela e controlo de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI), incentivando ao mesmo tempo o investimento nacional, de argelinos na Argélia. Do ponto de vista pessoal, o cancro no estômago de que o Presidente Bouteflika padece, tem regredido substancialmente, não se prevendo alteração de data para as presidenciais de 2014. Estes factores, juntamente com o facto de ser a face visivel da guerra contra os islamistas (1992/2002) e, da respectiva paz, colocam-no, de facto, num pico de popularidade sem precedente perante os seus. Do outro lado, sobretudo da visão e da opinião de quem se encontra no exílio, a Argélia é gerida pelo "Gabinete Negro", encabeçado pelo General Mohamed Mediène, mais conhecido por Taoufiq, o Director do Département du Renseignement et de la Securité (DRS), desde 1990, os Serviços Secretos Militares. Segundo a oposição, quer laica, quer islamista, é este Gabinete que nunca esteve sujeito ao escrutínio público, que tudo controla no país, sobretudo as decisões tomadas pelo Presidente, quer aos niveis político, quer económico. As razões apontadas por estes criticos de que um "Tsunami Popular" está prestes a acontecer na Argélia, consubstanciam-se no número de manifestações violentas contabilizadas em 2011, 9.410, no número de auto-imolações também contabilizadas o ano passado, 130, na taxa de desemprego dos jovens, a qual ultrapassa os 40%. Dois terços de uma população de mais de 37 milhões de argelinos, tem menos de 35 anos e será este o futuro de um país que há muito aguarda por uma mudança geracional e que vem sendo gerido por aquilo que se tem vindo a transformar numa gerontocracia. Abdelaziz Bouteflika, por exemplo, foi Ministro da Juventude e do Desporto em 1962. 50 anos depois, ainda mexe, tendo atingido o topo da carreira, sendo estes mesmos militares que ocupam as direcções gerais das empresas públicas, que por sua vez consomem, ou fornecem, empresas privadas criadas pelos filhos e netos. Quanto aos resultados eleitorais, de referir a escassa taxa de participação, a qual rondou os 43%, o que reforça o que ficou implicito anteriormente. Ou seja, os argelinos sabem que quem verdadeiramente governa o país é o Gabinete Negro e que os resultados eleitorais pouco importam nos planos traçados por estes para o país. Dos 462 deputados a eleger, a Frente de Libertação Nacional (FLN) conquistou 221 (mais 85 que em 2007), o Rassemblement National Démocratique (RND), elegeu 70 (mais 9 que em 2007) e a Aliança Argélia Verde (AAV), uma coligação islamista composta pelo Mouvement de la Société pour la Paix (MSP), pelo El Islah (a Reforma) e pelo Ennahda (Renascença), elegeu 47 deputados, menos 13 que o conjunto destas formações em 2007, as quais não estavam coligadas. De referir que o MSP fez parte desde 2007 até Janeiro deste ano, da chamada Aliança Presidencial, a qual constitui Governo nos últimos 5 anos e que foi formado pelo FLN, RND e MSP. O facto do MSP ter feito parte da Aliança Presidencial e ser de momento um dos grandes criticos dos resultados eleitorais, significa que se tratam de islamistas integrados no jogo político e que muito terão a perder, caso mobilizem a rua. Ou talvez não, no cenário de exclusão social descrito anteriormente, talvez seja sedutora a ideia de uma fuga para uma frente de subversão, a qual abarcará transversalmente árabes, berbéres, urbanos, rurais, pobres, remediados, mas também endinheirados, mais uma classe de inimigos criada por estes regimes, por via de constantes prejuizos nos seus negócios, pela clique de militares que comanda a economia do país. Na verdade, a grande frustração desta nova classe d'inimigos, não é o dinheiro que perdem, mas sim o que não os deixam ganhar. as guarantied and raised subventions to staple goods, adding sugar and vegetable oil to the already existing list containing milkmachrek=s25484#ixzz1vPWjpIrE
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