segunda-feira, 28 de maio de 2012
Egipto: "Primavera Árabe?"
Raúl M. Braga Pires, em Rabat (www.expresso.pt) 3:43 Segunda feira, 28 de maio de 2012 A confirmar-se a fraude eleitoral, trata-se de mais uma prova de que a "Primavera Árabe" nunca existiu no Egipto e aquilo a que se tem chamado de Revolução, afinal foi um Golpe d'Estado Militar, para não permitir que Gamal Mubarak sucedesse a seu pai. Google Imagens O inesperado resultado da primeira volta das presidenciais egípcias, sobretudo o facto do ex-Primeiro-Ministro Ahmed Shafiq ter sido o 2º mais votado, fez levantar de imediato as sobrancelhas, até dos mais desatentos. A explicação pode ser simples. Segundo o sítio do quotidiano egípcio o 7º dia, estes resultados foram possiveis graças a uma monumental "chapelada" eleitoral, a qual aconteceu segundo os seguintes moldes. Em primeiro lugar é preciso reter o seguinte facto, os membros das forças de segurança, quer policial, quer militar, de acordo com a lei egípcia, estão inibidos de votar. Volto a repetir, polícias e militares egípcios, estão proibidos de votar, conforme estipulado na lei. Um segundo detalhe é o facto de se votar apenas com o Bilhete de Identidade, o qual identifica a profissão de seu portador. Uns dias antes das eleições, os eleitores vão-se inscrever nas "Juntas de Freguesia" dos seus bairros, ficando registados, o que permite o cumprimento do seu direito cívico uns dias depois. Ora um oficial dos Serviços Secretos Centrais, de nome Abdul Rahman Al-Mansour Nashar, apresentou queixa na Procuradoria-Geral, contra vários colegas seus, por estarem por detrás da criação de 900.000 Bilhetes de Identidade novos/falsos, com os dados de 900.000 polícias, mas referindo profissões, que não as que exercem. De referir também que os candidatos Abdel Moneim Aboul Fotouh, Amr Mussa e Hamdeen Sabahi, já apresentaram queixa junto da Comissão Superior para a Eleição Presidencial, basedos na forma como alguns votos estão a ser contados, a forma como alguns votos entraram nas urnas, o facto de terem conhecimento da compra de votos, os quais ascendem a cerca de 100 Dólares cada, mas sobretudo, por todas as candidaturas terem visto polícias a votar. Mas vamos imaginar que os resultados apurados até ao momento são legitimos: Mohamed Morsy, 25.30%; Ahmed Shafiq, 23.74%; Hamdeen Sabahi, 21.60%; Abdel Moneim Aboul Fotouh, 17.93% e Amr Mussa, 10.97%. Não me surpreende uma bipolarização do eleitorado egípcio entre Irmandade Muçulmana e defensores do antigo regime. Aliás, a campanha de Ahmed Shafiq foi pautada pelo discurso do retorno à estabilidade e à segurança, caso seja eleito, baseado num hiper-Presidencialismo, onde o Chefe d'Estado nomeia Comissários para todos os cantos do país, os quais darão um feed-back sobre as necessidades do povo e garantirão a aplicação no terreno das directrizes emanadas do poder central. Os noticiários televisivos durante o período de campanha, não se cansaram de apresentar reportagens e notícias sobre a galopante onda de crime e a consequente crise no investimento e na economia que a mesma provoca. Em contra-ponto, a campanha d'Aboul Fotouh baseou-se na necessidade de educar as massas. Nobre, mas não cria o mesmo frisson que um bom discurso securitário. O mesmo aconteceu com Amr Mussa, cujo mote foi o emprego e a sua experiência de gabinete. Ora experiência por experiência, é natural que o povo opte por um duro, que durante a campanha se apresentou como "combatente, sufí e descendente do Profeta" e com dois caças israelitas abatidos durante a Guerra do Yom Kippur no seu curriculum, para além dos sucessos apresentados na transformação do Aeroporto Internacional do Cairo e da EgyptAir, em referências mundiais. Por outro lado, este candidato teve o voto esmagador das comunidades coptas, em pânico com a possibilidade de um Egipto dominado pelos islamistas. Mas a grande surpresa, na minha opinião, são os 21% do jovem nasserista Hamdeen Sabahi, 57 anos, Secretário-Geral do Partido Al-Karama (Dignidade). Jornalista, com a aura de ter sido oposição a Anwar Sadat e a Hosni Mubarak, sobretudo pelas políticas seguidistas face a Israel e anti-palestinianas (no caso de Sadat) na sua opinião e, das políticas agricolas, no caso de Mubarak. Estas posições valeram-lhe o cárcer no final dos anos 70. Em 2003 está com o Movimento Kefaya (Basta) e em 2010 com a Associação Nacional para a Mudança, com Muhammed Al-Baradei e Ayman Nur. No 1º aniversário da "Revolução" de Tahrir, este ano, defendeu que quem possui mais de 50 milhões de Libras Egípcias (cerca de 8.3 milhões de dólares), deverá pagar um imposto de 10% sobre esse valor. O mote da sua campanha foi "Um de nós", o que aproximou do eleitorado este natural da pequena Baltim, no Delta do Nilo, onde cresceu entre agricultores e pescadores. Por outro lado, o voto num nasserista é também ele um voto de protesto na visão exclusivista dos islamistas. O socialismo de Nasser baseia-se numa mundivisão árabe, africana e islâmica, à qual certamente o Egipto moderno terá que acrescentar o Cristianismo Copta. A confirmarem-se os resultados e a realizar-se uma segunda volta a 16 e 17 de Junho, entre Morsy e Shafiq, os egípcios irão às urnas divididos entre o ontem e o amanhã. Sendo que o ontem é representado pelo último Primeiro-Ministro de Hosni Mubarak. Curiosamente ambos Marechais da Força Aérea. A transferência de votos das outras candidaturas para Shafiq, será um teste à capacidade que os egípcios terão para engolir sapos vivos, já que certamente ninguém esperaria que um ano depois estivessem a votar um "novo-velho Egipto". Um cenário d'eleição d'Ahmad Shafiq, provocará um regresso massivo à Praça Tahrir e levará a Irmandade Muçulmana a assumir em definitivo e legitimamente o papel de vitima. Certamente que colocarão em cima da mesa a opção violência, como resposta. A opção Morsy colocará todos os ovos no mesmo cesto, já que o partido que lidera, Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana, domina a Assembleia do Povo Egípcio, pelo que a 2ª volta será também um teste à inteligência dos egípcios, partindo do principio que o jogo é limpo. http://expresso.sapo.pt/maghreb--machrek=s25484#ixzz1w9qP8Muj
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